O INQUILINO
Ao som da gravilha movediça,aquela multidão caminhava em uníssono,passo a passo, em cadência sincopada.Todos eram enormes e o corpo franzino de Ana.sentia-se afogar no meio daquele bando pouco conhecido.Para onde iriam todos??Coisa estranha...Uma procissão talvez,uma festa...uma festa não poderia ser porque todos estavam tristes e vestiam cores escuras...Até Ana tinha sido embrullhada num vestido de chita escura com florinhas brancas que ela só conhecera quando lho vestiram para a ocasião...Se calhar era um funeral!E era mesmo!!Só veio a sabê-lo mais tardequando,em companhia de seu Pai quando ía mudar as flores tristes,de pescoço descaído,que estavam enfiadas naquela inesquecível jarra chamada solitário.Afunilada,apenas permitia a entrada de alguns pés de flores que o pai da miúda agarrava com a mão esquerda e torcia com a direita,de uma só vez,de modo a partir-lhe os pés e conseguir enfiá-los de uma só vez no recipiente.Que falta de jeito têm os homens para lidar com as flores!pensava Ana...
Esta cena repetiu-se durante bastante tempo e colou-se para sempre à rotina da criança.Sem perceber porquê um dia tudo acabou.Não voltaram mais àquele rectângulo de terra que ela vê ainda hoje,lá no fundo,sempre em frente,depois de entrar no portão e à esquerda,junto aos ciprestes,altivos ameaçadores,medonhos...